quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Câncer

Terrível.
A pele adquire uma tonalidade pálida,
branca, quase azul.
Caem cabelos e pêlos.
Pelos baços
braços da vida
ainda sou timidamente abraçado.
Uma pergunta ecoa no espaço infinito
do crânio de um homem louco:
Até quando?

Passeio

Qual é o caminho do homem?
Por onde seguem seus passos?
Por onde passeiam seus pés?
Em veredes enlameadas seguem eles,
enlameadas com uma lama vermelha,
fresca, quente.

Violência:
sinônimo da razão humana.
Guerra:
artifício de lucro.
Morte:
vizinha próxima, muito próxima.
Amiga fiel que não se esquece de ninguém.

E a ONU, a Unicef, a Unesco?
Abarrotadas de trabalho:
Revolvem questões batidas.
Solução:
Revólver armado com balas .45 cal.

Enquanto escrevo,
quenianos morrem no Quênia
e na esquina da minha rua.
O sangue é a única moeda corrente no mundo.

Terrível, não é?

domingo, 27 de janeiro de 2008

Sapatos

Passos rápidos.
Buzinas.
Trânsito louco, gritos, injúrias.
Fumaça negra entrando em minhas narinas.
Uma bicicleta quase me atropela.
Aquela bicicleta quase foi atropelada.
O ônibus pára.
Centenas de sapatos muito bem amarrados embarcam.
Para qualquer lugar.
Para longe.
Um barulho ensurdecedor de gente não deixa meus ouvidos.
Esse cheiro...
Gente, gente, gente, gente, gente para todos os lados,
até onde o asfalto negro e o cimento maculado
permitem que eu veja.
Só há gente.
Não, me expressei mal.
Só há sapatos.
Que crime é essa vida!
Os sapatos são os culpados,
um verdadeiro mar de sapatos,
um exército de sapatos sujos.
O verdadeiro crime das cidades é essa multidão de sapatos;
Multidão vazia
que esvazia
qualquer um.

De volta ao assunto...

Mas chega de efusões líricas. Vou abandonar momentaneamente esse tema e voltar à bem vinda maluquice outra vez (redundantemente).


Mente genial

Mente,
a cabeça do homem,
todas as ciências, exatas e inexatas,
a psicanálise, o cálculo avançado,
a trigonometria, a geologia e a biologia.
Todo o conhecimento humano
Mente.




Mudo

O mundo muda,
sim, de fato,
o mundo muda.
Muda o mundo e o mundo muda.
O mundo muda
O homem
muda o mundo.
Mas tudo muda e nada muda,
enquanto o homem, imutável mutante,
está sempre
mudo.
Isso, sim,
nunca muda.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Para alguém

Continuo com as amenidades. Estes escrevi para pessoas muito especiais para mim. Muito especiais. Que o tempo não seja cruel a ponto de me apartar delas.



Perfume

Já faz quanto tempo?
Dias atrás ainda estávamos juntos.
Horas passadas, contadas como segundos,
que agora voltam, feito eras eternas, em meus olhos.
Olhos molhados.
Não, o passado não merece lágrimas.
Que não se misture à doçura dos azuis alegres dias
o sabor amargo do presente plúmbeo
e do futuro negro.
Que fique somente um cheiro bom nessa neblina
que eu possa voltar a sentir quando desejar.
Lembranças são motivo de consolo, não de choro.
Fiquem presos para sempre os sorrisos
no claustro obscuro que chamo crânio.
Não quero abrir mão deles.
Fique comigo essa luz, já tão fraca,
que, às vezes, me dá pistas
das pessoas que um dia eu fui.
Fique comigo a saudade que eu sentir de ti.
Fique contigo a saudade que tu sentires de mim.
Serei sempre como uma pedrinha em teu sapato.




Intitulável

Quanta coisa dissemos ou ao outro, não é?
Quanta coisa ficou presa
entre esperanças e frustrações,
entre risadas e lamentos,
entre sonhos e realidades?
Comprar um apartamento com chão de vidro.
Viajar para Sidney!
Vestidos, ternos e sapatos.
Sungas e bikínis caídos na areia das praias da ilha de caras!
Sem dúvida, chocar o mundo.
A faculdade de medicina.
A publicação de um livro.
Um consultório novo.
Uma escola diferente.
Muitas e muitas coisinhas mais
foram pensadas, planejadas cuidadosamente,
concebidas em nossas mentes de crianças arteiras feiticeiras!
Espero que elas venham com o tempo,
mas, se não vierem,
saiba que só estar contigo,
só estar contigo,
já me faz verdadeiramente feliz.
O amor é um sentimento engraçado...
e as melhores risadas que dei foram com você.

Mudando de assunto...

Bom, já chega de toda essa perfídia... pelo menos por enquanto. Agora um texto sobre outro assunto, algo mais brando. Várias vezes já me perguntei o que seria a beleza, de onde ela vem. Bom, aí estão algumas respostas, bem malucas e incoerentes, mas respostas assim mesmo.


Perguntas

Tu,
esfinge de cristal,
saberias me dizer
qual a resposta do mistério que te circunda?
Mistério dos teus sorrisos, dos teus choros,

da tua complexa existência.
O quê há de tão intrigante em ti?
O quê há de diferente em ti,
que acaba por prender não só os meus olhos,
os meus velhos e tristes olhos,
mas também meus pensamentos?
Tu
saberias me dizer
qual o segredo da tua estranha presença?
Presença que se mostra,

mesmo na ausência,
cada vez mais intensa?
Presença muitas vezes perdida
lá no fundo do céu, estonteantemente azul,
em algum cantinho distante

do éter cósmico,
mas que, mesmo longínqua,
permanece palpável e brilhante.
Não deve haver respostas

para os teus mistérios.
Não deve haver respostas para ti,

muitos menos para mim.
A beleza de certas coisas reside justamente

em sua obliquidade.
A tua beleza deve residir, então,

na beleza das perguntas
que a tua existência

e a tua presença
instigarem em mim.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Espelho de fotografias

Eu e minhas amigas.
Itamambuuuuca!
S2 pra sempre!
Não é pra qlqr um!
Eu.
Eu xD.
Eu =].
Eu =P.
Eu eu eu eu x).
Churraaaaaaasss.
Formatura perfeeeeita!
Eu.

Besteiras.
Amanhã as amigas não serão mais amigas,
serão megeras.
A itamambuca... poluída.
S2 já acabou, você é que não sabe.
Sim, é pra qualquer um, porque todos já pegaram.
Você,
você,
você,
você
precisa dar uma olhadinha no espelho.
Para fazer churras precisa de grana.
Nem sempre seu pai vai te bancar.
A formatura... adulação. Formar-se era apenas sua obrigação,
a mais básica de todas elas.

Você de novo?

Tudo,
tudo não passa
de uma grande e gorda
idiotice.

Haja gente besta, meu Deus!
Parece que futilidade é acessório que vem de fábrica.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Mentiras

Não acredito em tudo o que leio. A verdade não está em textos. Palavras são mentiras bem elaboradas por meio das quais nós, os escritores, tentamos revelar verdades. Nem sempre conseguimos. Não acredite em tudo o que lê, porque a verdade não está naquilo que se lê, mas naquilo que se entende, naquilo que se pensa, naquilo que se sente. Um papel pintado de letras, como o céu pintado de estrelas, não é mais que um papel pintado e nem se aproxima de toda a significação e beleza das estrelas no éter negro do espaço, por mais que por meio de rabiscos o tentemos descrever. Qualquer significação que possa conter está, antes de tudo, nos olhos daquele que lê e no coração daquele que escreve. Aí está a verdade. Esqueçam-se pronomes, substantivos, adjetivos, advérbios, sujeitos, predicados, agentes da passiva e toda essa laia de coisas inúteis. A mensagem a ser transmitida não precisa deles. Precisa de um coração que escreva e de olhos que leiam, nada mais. A mensagem precisa ter mensagem; precisa ter um corpo próprio, com olhos, nariz, boca, orelhas, braços e pernas. Precisa ser livre para correr e se perder no fundo de cabeças alheias. De resto, não precisa de mais coisa alguma. A linguagem é apenas um transporte, que leva, por meio de vocábulos, sentimentos de coração a coração, pensamentos de cabeça a cabeça, visões de olho a olho. Palavras não tem significado próprio, tem aquele que nós nelas colocamos. Por isso não acredito em tudo o que leio, porque minha significação é diferente da de quem as escreveu e, sendo assim, é outra a minha verdade. Sou outro, de uma forma maravilhosamente encantadora, sou outro, como todos somos outros uns dos outros, e, assim, é outra a nossa verdade. A minha mentira pode ser a tua verdade, e a tua mentira a minha verdade.

Quem é que garante algo neste mundo?

Agora, explicando

Bom, para quem possa interessar, agora me explico.
De fato, às vezes até eu mesmo me estranho por ter escrito esses textos, digamos... meio para baixo. Escrevi muitos outros também. Mas aviso desde já: nem todos eles são reflexo de sensações que eu mesmo experimentei. Muitos são só especulação, diversão, pensamentos que tenho sobre a vida das pessoas. Alguns são, de fato, coisas pelas quais passei, mas a maioria não. Fica a seu critério saber quais, porque eu não tenho intensão de explicar nenhum deles (embora esteja, neste post, explicando xD)
Paradoxal, sim, mas assim são os malucos sadios, certo?
Um abraço!

Conheci?

Vejo fotos velhas.
Nesta apareço ao lado de um rapaz forte.
Naquela, estou abraçado a uma moça.
Nesta outra, em meio a várias pessoas
tenho dificuldade de me encontrar,
mas, enfim, acho-me em um canto,
perdido entre outras cabeças.
Fico confuso.
Paro um momento, vou ao banheiro, lavo o rosto,
olho no espelho,
volto às fotos
e me pergunto:
“Meu Deus, quem é essa gente
que pareço ter conhecido,
mas que hoje me é incógnita?”

Afinal, que é esperança?

É o mundo, perdido,
que nos faz perder,
e ainda assim pensamos ganhar.
É o coração de quem ama,
cego, surdo, tagarela e estúpido,
julgando o passageiro por eterno,
enxergando o infinito em um ponto minísculo,
ridículo,
imbecil,
no espaço.
É o coração apaixonado,
crente na bondade,
na doçura e na felicidade,
quando, na realidade,
nenhuma delas existe.
É a espantosa arte de se enganar
e com isso esquecer que se engana
e acreditar no engano.

Esperança é mentira que,
por consagração e uso,
se torna verdade,
mas nem por isso
deixa de ser mentirosa.
Esperança é ser fraco
para não enxergar
que tudo quanto está a sua volta
está podre e morto, e não ter força
para aceitar que
não adianta esperar,
pois o que se espera
não virá.

Todos nós sabemos disso,
pois nós somos todos esperança
e todos nós somos a esperança,
e enquanto esperarmos
seremos nós
e sendo nós,
seremos esperança,
que não morre,
não cansa,
não some
nunca.

Tamanha é a teimosia da raça humana

Botânica

Há música, há luz, há brilho. Estrelas decadentes e seu brilho vago seduzem olhares e se apagam. Astros caídos do cosmos perambulam sem rumo, sem se dar conta de que estão caídos. Corpos se amontoam, arfantes, cansados, penosos. São vultos se contorcendo, são silhuetas pueris agonizantes, são garotinhas e garotinhos.
Serão mesmo? Não, não são. Já são extintos os garotinhos e as garotinhas. Figuras de um passado não tão distante, mas passado.
São botões de rosa, cortados antes de se tornarem flor. São botões, simples botões. Notável observação botânica. Privados de seu florescer, induzidos, artificiais, iludidos. São bebês de proveta, são uns pobres coitados. Programados, enganados, dirigidos, arrebanhados, estúpidos e indiferentes. Inocentes e, todavia, culpados. Foram arrancados do sonho e jogados no mundo sem antes terem aberto os olhos. Perderam a cor.
São seus filhos, são meus filhos. Fato é que são filhos. Filhos sem pais, presumo. E ainda há música, há luz, há brilho. Um milhão de vozes gritando, um turbilhão de confusão, dor e indiferença.
O que estamos comemorando afinal? Brindamos à morte, brindamos à vida, brindamos aos bons tempos. Que bons tempos? Não existem bons tempos! Tempos se perdem, não brindo à eles. Tempos se mostram e se vão, cruéis. Fazem-nos conhecer o doce e o levam. Deixam apenas o amargo, o azedo, o pútrido e o fétido. E o que trazem? Botões. Não rosas, mas cinzas.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Primeira postagem

Bom, primeira vez no blogspot, estou achando tudo legal! Minha amiga Lyssa foi crucial na minha decisão por montar um blog, então, aqui estão meus sinceros agradecimentos à senhorita!
Estou postando aqui alguns dos textos que escrevo, para compartilhar com quem queira ler, mas de fato não escrevo para os outros, salvo algumas exceções que algumas pessoas sabem =)
Escrever, a meu ver, é pôr em tinta coisas das quais não se quer esquecer. É uma forma de reflexão. Para mim o papel é como um espelho e nada mais. Se alguma das coisas lidas aqui não fizerem sentido para você que está lendo, não se preocupe. Certas coisas escrevi para que somente eu entendesse. Agradeço a visita e espero que goste =) Um abraço!
Já deixo aqui um texto para que entenda o que é, para mim, escrever.


Metalinguagem


Nessas noites quentes,
nas quais relâmpagos vermelhos rolam pelos céus

como luzes estroboscópicas,
seguidas por estridentes trovões que mais parecem

rugidos de bestas feridas, ou gritos de homens famintos,
sinto um prurido nas pontas dos dedos.
Um cheiro de terra molhada,
espécie de éter que desde a infância me é familiar,
invade minhas narinas e me entorpece.
Fico doido, louco, desvairado, furioso, melancólico, apaixonado,
maluco, maluco, maluco.
Entro em mil mentes, visito um milhão de almas agonizantes,
viajo pelas arteríolas dos corações amantes,
visto oitocentas e noventa vestes diferentes, coloridas e desbotadas.
Sou eu, sou todos,
Não sou ninguém.
Apareço como réles estudante, no próximo instante sou sertanejo,

a seguir sou rico burguês, depois pobre comunista,
logo após sou morto, mas então renasço e me mostro bicho da terra.
Distorço realidades,

construo mundos através da gramatica normativa,
nem sempre tão normativa assim;
através de composições sintáticas faço um desenho feio

e o acho lindo.
Alguns escrevem para revelar o oculto,
outros para revelar o óbvio.
Escrever para pensar,
Escrever para gritar,
Escrever para lutar,
nunca fui simpático a essas vertentes.
Escrevo por paranóia e saudade,
em um tentativa tola e insana
de encontrar novamente
a primeira palavra que da minha boca saltou no mundo.