Ibiajara não esquece.
Vivia na tribo.
Comia carne de onça e quati.
Muito beiju e mandioca.
Tinha irmão, pai e mãe.
Um dia chegou a morte,
Toda vestida de feridas
Pretas,
Fedidas,
Horríveis.
Metade da tribo caiu.
Irmão, pai e mãe.
Cunhapora não esquece.
Índia bonita, sadia.
Carne forte, morena.
Sabia trançar como ninguém.
Vivia feliz com o marido.
Um dia chegou o abismo,
Sedento da pureza de olhos em lágrimas.
Pervertido,
Safado,
Nojento.
Nunca mais houve pureza.
Foi roubada de si mesma.
Potira não esquece.
Menina meiga, inteligente.
Sabida, persistente.
Corria atrás das cotias na mata.
Brincava e ria aos largos.
Um dia a terra pegou fogo.
A fumaça invadiu a mata.
Pegou as crianças da tribo.
Pequenas,
Chorosas,
Pobres.
Viver queimando os dedos e as ventas.
Triste destino de flor chamuscada.
Piatã não esquece.
Conhecia o verde das folhas das árvores.
Perseguia os inimigos na mata.
Era índio bravo.
Um dia sentiu dor,
Vergonha, mágoa.
Piatã mostrou tacape.
Lutou,
Bateu,
Morreu.
Fraca força antiga
Dos homens que não tinham medo.
Piatã não foi esquecido.
Ibiajara, Cunhapora, Potira, Piatã.
Ninguém esquece.
Sempre pensando na vida.
Sempre pensando
Nas campinas verdes,
Nas matas escuras,
No Sol amarelo,
Nas flores brancas do povo
que se foi para bem longe.
Família morreu.
Tribo sumiu.
A felicidade se foi
Voando
como o derradeiro papagaio de sua espécie.
Sumiu.
E é por isso que o índio tem
Os olhos tristes perdidos
Nas águas escuras dos rios.
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