Foi o gato.
Cadê o toucinho que tava aqui?
O gato comeu!
“Não, não fui eu não!”, disse o gato,
Inconformado com tal acusação.
E, indignado,
Continuou sua reclamação:
“Pode parar com essa mania
De toda vez que some algo
Vir logo me acusar!
Eu não sou lá gato
De fazer e esconder.
Como sempre digo e repito:
Ao feito: peito!”
Mas então,
Quem teria comido o toucinho,
Delicioso pedaço de leitão?
“Eu não posso afirmar nada” – comentou
por entre miados o felino –
“mas se você
me pedisse a opinião
eu diria que foi o gavião.”
Nisso veio então
A solene ave de rapina
Defender sua reputação:
“Ora bolas, que absurdo!
Onde já se viu acusar de roubo gavião?
Pois todos sabem muito bem sabido
Que o gavião não rouba,
Ele caça!
E além disso, que interesse
Teria eu, que nem gosto de porco,
num pedaço de toucinho?
Se você quer mesmo saber,
Eu acuso o canarinho!”
A avezinha amarela veio assim,
Com sua voz melodiosa,
Refutar tal acusação:
“Pois digo eu que o senhor gavião
Está mesmo é com as porcas tortas!
Falta não um, mas dois
Parafusos na cachola desse rufião!
Acusar canarinho
De comer toucinho!
Esse senhor está louquinho!
Ademais, como conseguiria eu,
Com meu pequenino biquinho
Comer um pedação de toucinho?”
A defesa do canarinho
Foi deveras convincente.
Mas, ainda assim, coitadinho!
Foi só terminar esse sermão
Que o senhor gavião,
Muito doidão,
Saiu voando atrás do canarinho
Para fazer dele um caldinho.
E continuava
O roubo do toucinho
Sem qualquer solução.
Foi quando o gato,
O primeiro acusado,
Sugeriu ter sido obra
Do esperto e velho jabuti.
Depois de um tempo confabularmos
A respeito desse tema,
Chegou o jabuti
Para provar sua inocência!
“No meu tempo de moço,
Os jovens que acusavam
Um senhor de idade, homem feito,
De crime assombroso, horroroso,
Eram punidos com pauladas
De um pedaço de pau bem grosso!
Nunca fui acusado de nada
E em toda a minha vida
Jamais fiz mal
A uma mosca sequer!
Pois digo logo
Que não é hoje
Que serei falsamente acusado
Por um gato qualquer!”
E de fato, foi uma estupidez
Acusar o pobre jabuti.
Como poderia ele,
Por mais esperto que fosse,
Roubar o toucinho
Com tamanha lentidão?
Muito esperto, então,
O jabuti sugeriu:
“Acredito
Que quem cometeu tamanha violação
Foi o cachorro,
Bicho dos mais arteiros!”
Ofendido por tamanho insulto,
Se mostrou o cachorro,
Cabisbaixo, para afastar tais difamações:
“Entristeço-me por demais
Com o senhor jabuti
Por causa desse perjúrio.
Jamais roubaria de meu dono
Toucinho ou o que quer que fosse.
Pois, apesar de minhas traquinagens,
Sou ainda o mais leal dos animais,
Tanto que me chama até
De melhor amigo do homem!”
Mas que coisa! O cachorro tinha razão!
Como pudemos desconfiar
De um bicho com tão grande coração?
Mas ainda assim,
Continuava sem solução
O complicado caso
Do misterioso roubo do toucinho!
Quem poderia tê-lo pegado?
Quem poderia tê-lo comido?
E, mais importante,
Quem haveria de solucionar
Um roubo tão grandioso e complexo
Como o roubo do toucinho?
Muito se investigou
E muito se procurou
Responder a irrespondível questão:
“Cadê o toucinho que tava aqui?”.
Teorias foram elaboradas
Pelos maiores detetives do mundo.
Nem a Interpol, a CIA e a KGB
Conseguiram, num esforço conjunto,
Desvendar o vil criminoso
Que comera secretamente o toucinho.
Tudo fora em vão.
Foi só depois de muitos anos
Que o criminoso,
arrependido e envergonhado,
veio confessar seus atos.
Não foi o gato,
Nem o gavião,
Nem o canarinho,
Nem o jabuti
E nem o cachorro
Quem comeu o toucinho
Que estava ali.
No final das contas,
Foi tudo obra do menino arteiro
Que estava com fome
E que, para se safar da punição,
Disse:
“Foi o gato.”
2 comentários:
:)
Que legal... Lembrei-me de minha infância. Seu poema está muito bem redigido, como sempre.
Beijo!!!
É Dum digno de livro!!!!
Maravilhoso como todos mas este está muito legal!!!!!!
tia Alé.
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