segunda-feira, 13 de abril de 2009

Eu vi uma lágrima cair

E se perder numa triste feição marcada

Pelo tempo e pela vida.

Eu quis fugir.

Eu desejei ir embora

Pra não voltar

Nunca mais.

Eu queria ficar longe de mim mesmo.

Mas um dia

Um doce, belo e meigo anjo

Pousou a mão sobre o meu rosto,

Beijou-me

E disse-me:

“Seja feliz!”

Uma menina pequenina,

Veio devagar, aos pulinhos,

Pegou-me pela mão,

Puxou-me com força,

Me fez correr livre pelo vazio que antes era eu

E me encheu de flores.

E se antes eu só enxergava como o mundo é vão

E vazio e negro,

Então pude admirar toda a cor que há nele.

E se antes eu só via como o homem é mau,

E rude e pobre,

Então pude ver como ele pode ser bom e gentil.

E se antes eu sentia que não havia nada para mim nesta

fria e triste existência,

Então eu soube que haverá sempre um sorriso,

Um par de braços num abraço,

Um afago

E um beijo,

E não quero nada mais.

Eu sorri,

Fiz alguém sorrir também,

E nada nunca me trouxe mais contentamento.

Então pude ser feliz

Vivendo uma unidade dupla deveras singular,

Estranha completude de ser dois

Chamada amor.

Fio

Fio

Um homem de 37 anos

morreu ontem

vítima de um infarto fulminante.

Pai de dois filhos, marido dedicado,

boa pessoa.

Fico pensando

como é ridícula a nossa existência

e como é tênue

a linha que separa

vivos e mortos.

Tremo.

Não, não tenho medo da morte,

tenho medo

de deixar a minha vida por fazer.

Sono

Um homem ronca.

A lua brilha, dona do céu,

assessorada por milhares de estrelas.

Um gato mia,

um cachorro late, distante.

Ouve-se, de tempos em tempos, o barulho de um carro na rua.

Uma cama macia abriga dois olhos abertos.

Tranquilidade e desespero

de acordar em um mundo que dorme.