terça-feira, 11 de agosto de 2009

Contos

Olá pessoal! Bom, como prometi, aqui está um dos contos inspirados no jogo Okami que estou escrevendo. Esse vai ser o primeiro conto do livro[bb], que devo lançar em outubro. Espero que gostem!

Força

Para Himiko


Certa vez ocorreu, em um reino do extremo oriente, de uma princesa fascinar-se com uma pequena bola de cristal que ganhara em seu aniversário. Ninguém sabia quem havia enviado o presente, nem o próprio rei. Assim, criou-se suspeita ao redor do diminuto objeto e todos temiam que nele houvesse alguma maldição. Todavia, por causa dos pedidos da princesa, que adorara a beleza do cristal logo à primeira vista, o rei permitiu que se mantivesse a jóia. Exultante, a princesa agradeceu ao rei e foi correndo para o seu quarto guardar o belo presente.

Foi então que, sem que ninguém pudesse prever, uma enorme preocupação tomou conta do reino: a princesa adoecera. Tudo começou como uma leve indisposição que logo se transformou em apatia e, por fim, resultou na invalidez da jovem aristocrata. O povo falava de uma doença misteriosa que teria acometido a infanta. Os melhores médicos da região foram chamados para examinar a doente, mas nenhum deles conseguiu descobrir o que havia de errado com ela. O que ninguém sabia era que o mal da jovem não era biológico: ela estava obcecada por sua bola de cristal.

A princesa já não saía de sua cama e nem comia. Só no que pensava era na bola de cristal. Pálida e cada dia mais fraca, ela passava horas e horas observando o claro e límpido cristal de sua esfera. A superfície da jóia era tão polida que a princesa podia ver nela seu reflexo, como em um espelho, e passava noites inteiras acordada contemplando sua imagem refletida, encantada por essa pequena princesinha presa dentro do cristal da esfera.

Em uma dessas noites, iluminada em seu leito pela clara luz da lua que entrava pela janela, a princesa experimentou algo extraordinário. Observando a bola de cristal com a fascinação que já se lhe tornara costume, ela sentiu uma forte força vinda do interior da jóia. Era como se um braço invisível a puxasse gentilmente para perto da esfera, sem que ela pudesse esboçar qualquer reação. Essa força foi aumentando, tornando-se cada vez mais intensa e sinistra, mas a princesa não conseguia desviar os olhos, por mais que tentasse, do cristal encantado. Foi então que, em um piscar de olhos, aconteceu algo fantástico: a princesa entrara na esfera de cristal, ela se tornara o reflexo na superfície lisa do cristal. Ela era agora a princesinha presa entre as paredes transparentes de sua esfera. Através delas, a jovem aritocrata podia ver dois olhos enormes que a fitavam com afinco: era seu corpo que, ainda imóvel em seu leito e segurando a esfera em uma das mãos, continuava a observar a jóia com fascinação. A princesinha gritou, bateu com as mãos nas paredes de sua prisão, fez sinais com os braços, mas seu corpo não parecia perceber nada. Era como se o corpo imóvel fosse o reflexo da princesinha presa na bola de cristal. Logo o desespero tomou conta dela. Ela podia sentir uma pressão maligna ao seu redor. De repente, uma rachadura surgiu na parede da esfera. E logo surgiu outra, e depois mais outra, muitas outras mais: era o cristal entrando em colapso sobre o peso daquele olhar imenso, tétrico e doentio. A princesinha podia sentir-se rachando também, junto com o cristal, como se sua própria existência também estivesse sob ameaça. O olhar do corpo estático não se desviava e mais rachaduras foram surgindo. A princesinha aguentou enquanto pôde, mas chegou uma hora em que não podia mais suportar aquilo e se entregou, sufocada por aqueles olhos assustadores. A esfera se partiu em mil pedaços e a princesinha perdeu a consciência.

Acordou deitada em seu leito. Fôra tudo um sonho. Sentindo-se aliviada, a jovem fez um movimento para levantar-se da cama, mas de súbito se interrompeu: percebera que ainda segurava a bola de cristal. Ela teve medo, mas logo veio a vontade de se ver livre daquele objeto vicioso, e com ela também a coragem. Com um movimento rápido, a princesinha atirou a esfera contra a parede e o cristal, com a colisão, se estilhaçou. No entanto, os estilhaços jamais tocaram o chão do quarto. Antes disso, eles se desfizeram no ar como neblina sob o sol. Com os olhos em lágrimas, a princesa foi correndo abraçar seu pai, o rei. E naquela noite toda a família real e todo o povo se regozijaram e celebraram a cura da princesa.



3 comentários:

Ran Omelete disse...

Poxa, cara, legal! E joguei Okami, gostei muito desse jogo, até consegui liberar uns extras depois que zerei. Gostei da idéia de escrever uma história baseada num jogo que é baseado em lendas japonesas.

E dei uma olhada lá nos livros de poesia que você publicou no site Clube dos autores. Vem cá, deixa eu perguntar, aquele site é bom mesmo para publicar livros? Quer dizer, como você está indo com os seus livros lá? Curiosidade minha.

JURA disse...

belíssimo conto
abraços
do Veio JURA

simone santana disse...

Que bonito! Sempre surpreendendo... Mostrando que domina a escrita.

Beijo!