terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Útero

Altas horas da noite.
Vem essa escuridão exterior,
vaga, lenta, terna,
dama estranha aos meus olhares,
e torna todo o meu espaço interior
em algo não muito diferente de um útero.
Calmas horas da noite.
Silêncio.
Um grilo grilando na rua.
Sono da cidade feroz,
quietude de alma,
não me deixem!
Peço que o Sol se demore
por mais algumas horas.
Afinal, que pressa tem ele?
Vontade de dormir,
de ler, de escrever...
vontade de não fazer nada.
Vontade de querer alguém.
Vontade de ser querido.
Vontade de tapar o vácuo cósmico
com vontades.
Ah! Meus pés pedem asas,
minhas costas pedem redes,
meus olhos pedem óculos.
Há só o medo
e o vácuo que eu tanto gostaria de tapar.
Há só a noite
e esse útero insuportável de mim mesmo.

Tenho vontade de me parir.

Nenhum comentário: