terça-feira, 25 de março de 2008

Foi-se

As cidades não são mais cidades,
são selvas concretizadas, cinzentas,
pretas, sulfúricas e carbônicas,
onde reina a lei do mais forte;
são espécie de deserto populoso
no qual estar rodeado de seres
é o mesmo que estar só.
Os campos não são mais campos,
são habitats de máquinas,
de criaturas vegetais
(vegetais?)
bestificadas,
de anomalias propositais,
de aberrações alimentares;
são quilômetros e quilômetros cultivados
vazios.
Ninguém mais planta mandioca.
As casas não são mais casas,
são bunkers contra a vida cotidiana,
asilos de cabeças dementes,
de mentes
solitárias acompanhadas pela internet;
são prisões.
As famílias não são mais famílias,
são aglomerados sociais
nos quais existem provedores e parasitas,
nos quais inexistem amor, respeito, razão,
educação, princípios, ordem, afeto,
ou qualquer outra coisa referente à família;
são bandos bárbaros.
Nem as igrejas!!
As doces igrejas de outrora,
com seu coral de senhoras,
com seu cantar de crianças,
com seu louvar de homens fortes.
Nem as igrejas são mais igrejas,
são casas de espetáculo,
são clubes noturnos,
são cheias de gente vazia,
turba delirante e confusa,
equivocada e sedenta pelo sangue
do único homem justo que já caminhou por estes caminhos.
O mundo não é mais mundo,
é uma espécie de asteróide
que vaga perdido no cosmos
sem saber da colisão iminente,
com qualquer outro corpo celeste mais digno,
que o aguarda.
Se nada permanece como era originalmente,
se a totalidade das coisas tende
a se corromper e se tornar pérfida,
se a vida não é mais vida,
o que será de mim?

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