sábado, 12 de janeiro de 2008

Botânica

Há música, há luz, há brilho. Estrelas decadentes e seu brilho vago seduzem olhares e se apagam. Astros caídos do cosmos perambulam sem rumo, sem se dar conta de que estão caídos. Corpos se amontoam, arfantes, cansados, penosos. São vultos se contorcendo, são silhuetas pueris agonizantes, são garotinhas e garotinhos.
Serão mesmo? Não, não são. Já são extintos os garotinhos e as garotinhas. Figuras de um passado não tão distante, mas passado.
São botões de rosa, cortados antes de se tornarem flor. São botões, simples botões. Notável observação botânica. Privados de seu florescer, induzidos, artificiais, iludidos. São bebês de proveta, são uns pobres coitados. Programados, enganados, dirigidos, arrebanhados, estúpidos e indiferentes. Inocentes e, todavia, culpados. Foram arrancados do sonho e jogados no mundo sem antes terem aberto os olhos. Perderam a cor.
São seus filhos, são meus filhos. Fato é que são filhos. Filhos sem pais, presumo. E ainda há música, há luz, há brilho. Um milhão de vozes gritando, um turbilhão de confusão, dor e indiferença.
O que estamos comemorando afinal? Brindamos à morte, brindamos à vida, brindamos aos bons tempos. Que bons tempos? Não existem bons tempos! Tempos se perdem, não brindo à eles. Tempos se mostram e se vão, cruéis. Fazem-nos conhecer o doce e o levam. Deixam apenas o amargo, o azedo, o pútrido e o fétido. E o que trazem? Botões. Não rosas, mas cinzas.

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