sábado, 12 de janeiro de 2008

Mentiras

Não acredito em tudo o que leio. A verdade não está em textos. Palavras são mentiras bem elaboradas por meio das quais nós, os escritores, tentamos revelar verdades. Nem sempre conseguimos. Não acredite em tudo o que lê, porque a verdade não está naquilo que se lê, mas naquilo que se entende, naquilo que se pensa, naquilo que se sente. Um papel pintado de letras, como o céu pintado de estrelas, não é mais que um papel pintado e nem se aproxima de toda a significação e beleza das estrelas no éter negro do espaço, por mais que por meio de rabiscos o tentemos descrever. Qualquer significação que possa conter está, antes de tudo, nos olhos daquele que lê e no coração daquele que escreve. Aí está a verdade. Esqueçam-se pronomes, substantivos, adjetivos, advérbios, sujeitos, predicados, agentes da passiva e toda essa laia de coisas inúteis. A mensagem a ser transmitida não precisa deles. Precisa de um coração que escreva e de olhos que leiam, nada mais. A mensagem precisa ter mensagem; precisa ter um corpo próprio, com olhos, nariz, boca, orelhas, braços e pernas. Precisa ser livre para correr e se perder no fundo de cabeças alheias. De resto, não precisa de mais coisa alguma. A linguagem é apenas um transporte, que leva, por meio de vocábulos, sentimentos de coração a coração, pensamentos de cabeça a cabeça, visões de olho a olho. Palavras não tem significado próprio, tem aquele que nós nelas colocamos. Por isso não acredito em tudo o que leio, porque minha significação é diferente da de quem as escreveu e, sendo assim, é outra a minha verdade. Sou outro, de uma forma maravilhosamente encantadora, sou outro, como todos somos outros uns dos outros, e, assim, é outra a nossa verdade. A minha mentira pode ser a tua verdade, e a tua mentira a minha verdade.

Quem é que garante algo neste mundo?

2 comentários:

Willians disse...

Olá!

Primeiramente, lhe agradeço por compartilhar suas idéias, concepções, ae afins.
Parabéns pelo espaço!

Agora, eu não garanto nada, afinal a verdade minha pode ser mentira pra ti e vice versa...

Abraços!

Anônimo disse...

Todo leitor é um escritor em potencial. Me deu branco e não me lembro agora quem escreveu, mas é verdade. Sempre quando lemos criamos outros textos, essa é a magia da literatura, mesmo daquela que não é considerada arte.
Gostei muito do seu blog.
Beijo!!!