segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Eleição

Estava eu andando
tranquilamente pelas ruas
de minha cidade
quando sem mais nem menos
trupiquei
numa montanha de papel.
A montanha se ergueu
e me disse com voz
profunda e tenebrosa:
"Tens de escolher!"

Sobressaltado estaquei
sem poder sequer me mover.
A montanha, sem aviso,
Abriu a boca e cuspiu
nas paredes das casas,
na calçada, na rua,
no poste elétrico.

Nisso, o cuspe desfez-se em
números.

Números os mais diversos,
números coloridos,
grandes e pequenos,
gordos e magros,
números terríveis
que se descolaram da parede
e correram,
os afiados dentes mostrando,
me perseguindo.

Eu fugi, desesperado.

O exército de números
infernais
me perseguia,
ardentes com seus dentes pontiagudos.
A montanha gargalhava,
rindo do meu desespero
e repetia várias vezes
com a mesma voz terrível:
"Tens de escolher!"

Eu fugi, fugi, fugi
e, sem saber como,
me achei num largo saguão.
Os números estacaram atrás de mim,
os olhos malévolos
me devorando com lascívia.
Saída da escuridão
surgiu uma caixa preta
de olhos verdes, amarelos e vermelhos,
repleta de números.
Eu já não conseguia controlar
a minha tremedeira.
A caixa se aproximava lentamente,
vagarosamente,
arrastadamente.
Me olhou profundamente com um
feio olho verde
e expeliu um grito monstruoso!

"TI-RU-LI-RU-LI!!"

Abriu a boca e me engoliu inteiro.

Quando acordei,
tinha um sino em meu pescoço
e comia pasto
em meio a uma grande manada.

Eu havia me transformado
em gado.

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